Vai ser uma semana daquelas (2006)

Dureza 

Vai ser uma semana dura, com a delicadeza “costeando o alambrado”... lá vem Efe-agá-cê chamando Lula de demônio...que precisa ser afastado..."Ele é o Judas dessa historia porque traiu o povo brasileiro", emendou o gerentão Alkmin. Os dois em resposta a Lula que citou Cristo e Tiradentes.
Pesquisas

O Datafolha pesquisou nos principais pontos de trânsito de pessoas durante a sexta e o Ibope fez suas entrevistas nas casas dos eleitores entre quarta e sexta. Mas o Ibope divulgou a diminuição da diferença entre ter e não ter segundo turno para 3 pontos depois do Datafolha, que mostrou estabilidade nos números. Diferenças metodológicas à parte, por que a Folha divulgou a pesquisa presidencial em um sábado e a estadual de São Paulo no domingo, quando o normal seria o inverso?

IBOPE: 47 % da população não conversaram sobre política na ultima semana... 59 % ouviram, sim, falar do caso do dossiê... Mas desses 59 %, 51% não sabem do que se trata... Assim se chega aos 28 % da população que souberam do dossiê. Desses, sabe-se lá o que decidirão a respeito.
Personagem: O esforçado Oinegue

Seu nome é Eugênio de trás pra frente, mas pode ser letra de samba e com certeza muito assunto pra pensar. Jornalista que freqüenta a mesa do programa comandado por Franklin Martins nas noites das segundas-feiras pré-eleitorais. Outro dia, Oinegue tentou argumentar que é justo uma pessoa obrigar á União na justiça a fornecer os remédios importados que seu plano de saúde privado não cobre, sem, no entanto, entrar na fila em que estão os que só tem o sistema público para todas as suas necessidades. E que, óbvio, não tem como pagar honorários a um advogado. Todos olharam para ele meneando a cabeça. O esforçado personagem de impulsos liberais ficou todo sem jeito.
Pois o não é que o Oinegue agora reivindicou o voto nulo na urna eletrônica como uma liberdade essencial ao indivíduo. Fernando Mitre retrucou que não votar é votar no candidato que tem mais votos. Franklin emendou virando para a câmera: - em uma eleição, sempre é possível escolher o menos ruim e disse depois, olhando para o Oinegue, disse sem dó nem piedade e ainda com um sorrisinho discreto, - quem não vai votar não pode falar mal depois, se não fica fácil, não é...? Direto no queixo. Balançou, o Oinegue, podem procurar o replay.
Na TV
No programa Roda Viva, Paulo Brossard sendo cultuado por eminências: Boris Casoy, Reinaldo Azevedo, outro do Estadão, mais um da Record, etc... O que mais se viu foi ironia do entrevistado que brandia contra a crise moral e risadas fartas dos presentes.
Na TV Bandeirantes, Marco Aurélio Garcia x Gianotti. Este desfiando frases de efeito como "politizando a política", dentre outras. Marco Aurélio Garcia vira e diz o seguinte: olha aqui – com sotaque bem gaúcho -, essa história de que o povo não liga pra ética, por isso vota em Lula, porque é comprado pelo Bolsa Família, diferente da classe média, esta sim ética. A mesma classe média que, no médico particular, negocia o pagamento dos serviços prestados com ou sem recibo...Isso é preconceito. Completou: um argumento elitista!
Momentos depois, Gianotti se sai com "a Fiesp também acha que a governabilidade..." Pra que? Marco Aurélio veio de lá dizendo que o voto do senhor da Fiesp é igual ao de uma trabalhadora. Que lá estava de novo o elitismo do Gianotti. O que Gianotti fez? Nada, além de gaguejar um pouco.
O cazuza dos blogueiro tucanos
Do jeito que vai, o clipping do Noblat, o exagerado, vai continuar batendo recordes de acessos com seu estilo “cherlader” de ser. Afinal, são mais de 30 % da população os eleitores do Alkmin, e eu posso apostar que um grande proporção deles tem acesso à internet.
Os assediadores do sítio, no entanto, recebem sua dose de realidade. Puderam saber na noite da segunda feira, 25 de setembro, dentre outras coisas, que a pesquisa Sensus daria 10 % de vantagem de Lula sobre a soma dos concorrentes. Souberam também que Lula terminou seu discurso de 32 minutos em Porto Alegre lendo o poema "O outro Brasil que vem aí", de 1926, do escritor e sociólogo pernambucano Gilberto Freyre.
O outro Brasil que vem aí
Gilberto Freyre

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.

O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.

As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.

Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.

Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.

Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.

Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.