O primeiro dia dos presidenciáveis na TV (2006)


Ao contrário do que disse a maioria dos analistas políticos o primeiro dia do horário eleitoral mostrou claramente as diferenças entre as candidaturas, os candidatos e o modo como encaram o meio televisivo.

Os analistas, blogueiros e jornalistas transferiram automaticamente para seus comentários a cantilena de que são todos iguais os políticos, as políticas e os discursos. Mesmo que as semelhanças entre tucanos e petistas comecem a acabem na condução da política econômica, é realmente inacreditável como são os jornalistas que parecem mais iguais entre sí que a alegada semelhança entre os políticos, que seriam "farinha do mesmo saco". 

Antes de tudo programas eleitorais são programas de televisão e devem lutar para atrair e manter o interesse da audiência, optando por recursos e técnicas as mais diversas, compatíveis ou não com seus candidatos e plataformas. Desse modo, cada escolha realizada pelos estrategistas, redatores, músicos, fotógrafos, diretores, montadores e finalizadores revela muito sobre o que pensam, tanto sobre o próprio candidato quanto sobre os eleitores.

Tucanos

O primeiro programa tucano, realizado pela GW, produtora que já trabalhou para Covas, FHC, Alkmin e Serra, dentre outros, tratou de mostrar que cartilhas são para serem seguidas, mesmo que antigas e desgastadas. O candidato nasce, cresce, estuda, trabalha, se eleje, vence na vida. Seja ele quem for, no caso Geraldo, que é outro ítem da cartilha: chamar o sujeito pelo primeiro nome, novamente, seja ele quem for e que trajetória tiver percorrido.

Seguindo a cartilha, lá está o ítem que diz que testemunhos "espontâneos" do povo, que são chamados de "povo fala", são importantes para avalizar o Geraldo. Ah, se possível, siga as estatísticas do IBGE para escolher os "espontâneos" pretos, brancos, homens, mulheres, pobres, classe média e ricos. Pronto, o povo falou. E agora?

Agora o Geraldo tem que falar, e falar só coisas positivas. É preciso não contaminar o candidato com o diagnóstico, que aliás foi um ítem esquecido da cartilha, o que transformou o discurso do candidato em algo como a construção a partir do nada. Geraldo propos as soluções para um país que não existe. Isso em um escritório que não existe, com um movimento de câmera suave para... para quê mesmo? Ah, sim, está na cartilha, então não se discute, se faz!

Para fechar com louvor a obediência à cartilha, termina-se o programa com uma música para levantar o astral, contagiar os eleitores, etc. Mas espera aí, o Dominguinhos (que tambem está na cartilha) estava lá, o ritmo popular tambem, mas cadê a vibração, a alegria, a dinâmica?

Lulistas

É óbvio que o norte de João Santana, responsável pelos programas de Lula é outro. E de toda a sua equipe. Por exemplo, a narrativa da biografia é feita através de saltos na história do herói presidente: um dia é presidente do sindicato dos metalúrgico, no outro presidente do Brasil; um dia trabalha para ajudar a mãe, no outro ajuda milhões de brasileiros. Alguma revolução de linguagem? Claro que não, mas dizer que os programas são iguais...

Mais um aspecto rvelador das diferenças: se você tem uma fragilidade que os adversários vão atacar, seja o primeiro a tocar no assunto. Isso não é uma cartilha, é a lógica de quem pensa politicamente. Enquanto Alkmin "esquece" o tema segurança, Lula fala de ética, corrupção, e propõe a reforma política. E como um movimento de jogo de xadrez, lança um xeque ao perguntar algo como "vamos continuar e melhorar ou começar do zero, como querem alguns candidatos?" Você lembrou do discurso do Geraldo? Pois é...

Um a zero, incontestável.

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