Os alckmistas estão partindo (2006)


Em 10 dias de programas eleitorais e 20 de inserções, os candidatos mostraram a que vieram e a que não vieram. A despolitização impera, os ataques são tímidos e as novidades não deram as caras. Os principais jornalistas, colunistas e blogueiros, em sua maioria tucanos de carteirinha, que davam como certa a derrota do presidente passaram primeiro a culpar a comunicação tucana – repercutindo o ex-blog do César Maia diariamente –, depois a falta de empenho dos aliados para chegar finalmente aos verdadeiros culpados: o povo brasileiro.

Aonde já se viu, depois da “verdade” ser dita pelos grandes meios de comunicação, de conquistar a classe média, não se espalhar pelas consciências populares? Sempre foi assim, então o que houve? Os isentos e imparciais não se conformam nem com as pesquisas, procurando pêlo em ovo, destacando qualquer número de forma que pareça que a derrota não será acachapante. Exemplo de manchete de primeira página: “Diferença cai de 15 para 12 pontos”. Claro que não se tratava da diferença entre Lula e Alckmin, e sim da diferença entre Lula e soma de todos os outros candidatos. Outro: uma coluna comentava a última pesquisa com a seguinte chamada “Problema está entre os mais pobres”. Problema pra quem, cara pálida?
E assim desembarcam da canoa alckmista rosnando “Ah, se fosse o Serra...”.

Aos programas eleitorais:

Cristovam, o candidato telégrafo (traço, ponto, traço, ponto), dá um show. Não é para qualquer um abraçar o grande tema da educação, que envolve mais de 40 milhões de pessoas direta e diariamente, entre estudantes, professores e funcionários, e não conseguir passar de 1 ponto nas pesquisas, isso quando chega lá. Criador da Bolsa Escola, ministro da educação, deveria saber a língua desse imenso contingente de eleitores. Mas seu problema não é apenas a cabeça inclinada para lado e o biquinho que faz na TV, tentando ficar mais íntimo do telespectador. O seu programa é feito para crianças (ou será que é feito por crianças?). Tudo é fácil: as imagens, o entendimento, as soluções. E o esquecimento... Aliás, é bom lembrar que no seu último ano de governador do Distrito Federal (quando tentou a reeleição), aconteceu uma das mais longas e desgastantes greves de professores de escolas públicas, o que certamente colaborou para a vitória do seu adversário iletrado por pouco mais de 30 mil votos de diferença.

Heloísa Helena, alagoana de Palmeira dos Índios, viveu seu momento de glória com as aparições no Jornal Nacional antes do início da campanha na TV e no Rádio. Cresceu até chegar aos 10, 12 pontos com suas frases curtas e indignadas, perfeitas para a edição do telejornal. Daí em diante, acumulou todos os erros que podia. Esqueceu-se do objetivo de consolidar seu partido, xingou repórter de “idiota”, chamou ministro de estado de “empregadinho”, apresentadora de “meu amor” e reconheceu que programa de partido não tem nada a ver com programa de governo. Mas o seu maior pecado ainda estava por vir: rendeu-se ao tele-prompter. Isso foi para ela o que as máquinas de fotografia representavam para os índios, roubou-lhe a alma. A sua força, a espontaneidade foi sugada pela máquina, e os textos nem são tão grandes, afinal seu programa tem pouco mais de 1 minuto. Não dá para entender.

Alckmin segue com seu programa para prefeito de Pindamonhangaba empolgando mais do que leitura de bula de remédio. A cartilha de Luiz González e do PSDB está sendo seguida à risca: tornar Geraldo conhecido, mostrar sua capacidade administrativa, atacar anonimamente Lula e expor suas idéias. Mas a realidade insiste em causar problemas. O grande escritor argentino dizia “O mundo, desgraçadamente, é real. E eu, desgraçadamente, sou Borges”. O Geraldo não tem idéias, é ruim de câmera, suas caras e bocas são inexpressivas, o texto é do século passado, distribuindo “certo”, “errado”, “verdade” e “mentira” a três por quatro, como quem ilumina as trevas. O povo que fala em seus programas é falso que dói em suas falas curtíssimas dizendo platitudes que talvez elejam muitos prefeitos... mas presidente?

Lula, que surfa em uma fase em que tudo dá certo, pode dizer que a saída involuntária do publicitário Duda Mendonça e a entrada discreta do jornalista João Santana vieram a calhar. O seu governo recheado de realizações é bem explorado pelos programas, com o mote de que é melhor continuar com o que está dando certo do que começar do zero, bem próximo do que fez FHC na sua reeleição.

Aliás, “Erro Zero” é um bom termo para designar a estratégia de campanha e o desempenho dos programas comandados por Santana, baiano da cidade de Tucano...

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