“Pense em algo excêntrico, inusitado, em algum absurdo qualquer: ele já aconteceu na Bahia”, Otávio Mangabeira (2006)


Aconteceu

"Aconteceu, quando a gente não esperava.
Aconteceu, sem um sino pra tocar.
Aconteceu, diferente das histórias,
Que o passado e a memória têm costume de contar."
Adriana Calcanhoto, Aconteceu.

Na quinta-feira, Jaques Wagner tinha 31 pontos em pesquisa do IBOPE. No sábado, aparecia com 41. Na boca de urna, vencia por 49 a 43. O resultado final: 52,89 a 43,03.

Aconteceu, mas entender a vitória é fundamental para que a prática de governar atenda às expectativas dos eleitores. Jaques Wagner não derrotou o grupo carlista porque é Jaques Wagner. Ganhou as eleições pela conjugação de três pontos principais: o cansaço da população com o grupo no poder há 16 anos, a capacidade da oposição de se unir em torno de um objetivo e o prestígio do governo Lula.

Governar é outro desafio.
A graça

A segunda-feira pós-eleitoral mal começava na Rua da Graça, em um bairro de classe média alta de Salvador, e lá estava a faixa presa às grades do edifício onde mora o senador e ex-cacique Antônio Carlos Magalhães. A rua, acostumada com as declarações de apoio explícito e/ou pura bajulação, notou que algo de estranho havia ali: “COM ACM ATÉ O FIM".

O jornaleiro não demorou mais de 20 segundos para esboçar um sorriso. O gari responsável pela varrição pontual e perfeita daqueles metros de calçada quase sagrados também percebeu. O apontador de jogo do bicho gargalhava ao mostrar a mensagem a cada cliente que vinha fazer uma fezinha na zebra.

ACM teria passado por ali, lido e se sentido honrado. O seu neto, de altura ignorada, olhou para cima e também não percebeu a ironia. Foi somente quando o motorista da família estranhou o clima relaxado e sorridente de quem passava em frente ao prédio que a faixa foi retirada.

Tarde demais. A Bahia já faz troça do seu passado.
Lições 

O candidato carlista que foi apeado do poder quase não foi citado como derrotado. Foi ACM quem perdeu. Foi o cansaço pelos 16 anos de poder do grupo, sem que a Bahia melhorasse consideravelmente a condição de vida dos mais necessitados o responsável pela derrota.
Nos momentos de glória, os colunistas políticos diziam que Paulo Souto já era uma liderança mais poderosa do que Antônio Carlos Magalhães. Nas ruas, seus apoiadores já brincavam com o slogan "ACM preso, Paulo Souto!".

Nas urnas, o veredicto.

Quem nasceu politicamente sob as asas do padrinho não teve sequer o direito à derrota. Terá direito a aprender suas lições?

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