Reflexão sobre a atividade do profissional da comunicação política (2007)


Em 1988, uma agência de propaganda, em Salvador, era um ambiente completamente diferente. A mudança tecnológica processada nos últimos 18 anos transformou o processo de produção de cabo a rabo. A sequência diretor de arte, layout, fotógrafo, arte final é hoje totalmente digital. Era totalmente analógica. Quem começou a trabalhar com 20 anos, aos 40 é outro profissional.
A D&E Publicidade tinha seu desempenho moldado pelas personalidades de seus comandantes Sérgio Amado, Sidney Resende, Geraldo Walter e Cláudio Barreto. Hoje, não caberiam em uma mesma empresa pessoas tão dissonantes e dominantes. Na época, era um time de primeira. A agência tinha trabalhado na campanha vitoriosa de Waldir Pires para o governo do estado, inventando um marketing político. (Em 1986, todos os que trabalharam em campanhas inventaram soluções, às vezes as mesmas, às vezes mais criativas. Até 1989, criou-se mais, daí em diante, copiou-se, a si mesmo e a outros, e daí em diante ouve a rendição às pesquisas quantitativas e depois qualitativas.).
As agências tinham em seu quadro de funcionários os profissionais que são hoje os marqueteiros. Em Angola, 1992, brasileiros fomos chamados de plumitivos jagunços. Com as possibilidades abertas e pelo dinheiro envolvido, essas pessoas passaram a se dedicar exclusivamente ao que depois se tentou denominar propaganda institucional, ou seja, governo e eleições, e muito raramente, uma grande empresa. Fernando Barros, Cláudio Barreto, Duda Mendonça, José Roberto Berni e Geraldo Walter são craques formados nos campos baianos na década de 80, época em que em todo o país começou a se criar o mito que o marqueteiro ganha o jogo sozinho.
Políticos não são sabão, mas sempre parecia possível - e ainda parece - pôr qualquer coisa em uma caixa bonita e dizer que é o melhor sabão não há. O descrédito na atividade política é a enzima que torna digerível todo o processo em que um candidato finge que apresenta propostas e os eleitores fingem que acreditam. E o professor Rubens Figueiredo já disse que as pessoas votam sabendo que as promessas não serão cumpridas. O que vale é a intenção.
A maioria dos brasileiros já sofre a frustração de não poder sequer sonhar com a enormidade de produtos e serviços que o capitalismo promete e a democracia não entrega. As campanhas políticas cada vez mais parecidas com a publicidade de produtos de consumo andam acrescentando calor a esse caldeirão de desejos frustrados.
Se cabe culpa aos marqueteiros? Provavelmente sim, mas não a óbvia demonização em curso baseada nas próprias disputas políticas. A falha é a falta de reflexão dos profissionais no sentido de determinar o campo de atuação, as relações de trabalho, o alcance das ações e um código de conduta, como todos os profissionais que atuam na área da comunicação. Hoje, a atividade é repleta de casos de ilegalidades, informalidades, amadorismos, calotes, etc., etc. Se a necessidade de refletir em si não fosse suficiente, temos que olhar para a possibilidade do financiamento público de campanha que se aproxima no horizonte, que nos tornará a todos gestores de recursos da sociedade.
Após este árduo esforço, talvez estejamos em condições de debatermos realmente sobre a atividade política e a sua comunicação. Sobre a necessidade dos projetos de comunicação política se estruturarem no médio e longo prazo, não porque trabalhar no curto prazo encarece, mas porque a continuidade é uma chave. Esse é o exemplo de um ponto que os dirigentes e os comunicadores podem concordar e ser bom pra todos. Principalmente para a sociedade. Outra discussão interessante pode ser sobre os profissionais “orgânicos”, não os sem agrotóxicos, mas os gramscianamente engajados.
Também na comunicação política, um outro mundo é possível, em que caibam profissionalismo, talento, pesquisa, remuneração justa, reconhecimento adequado e satisfação profissional. E principalmente, um mundo em que a política tenha de volta a capacidade de transformação da realidade.

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