O diabo na carne de mr. FHC (2006)

"Lula é o diabo", declarou FHC em um comício. Ele não está gagá, como poderiam pensar em seu benefício muitos de seus admiradores. O que acontece é que foi longe demais na sua aventura de observador-participante do grande Baile da Ilha (paraíso) Fiscal que é a vida dos seus aliados políticos, os representantes que sucedem Pedro Álvares Cabral a querer tomar conta dos “outros” para todo o sempre. Frantz Fanon, intelectual da mesma geração do ex-presidente, no começo da década de 60 já matava a charada de como os colonizadores viam o “outro”: “O indígena (o negro, o local, o povo) é declarado impermeável à ética, ausência de valores, como também negação de valores. É, ousemos confessá-lo, o inimigo dos valores. Nesse sentido, é o mal absoluto. Elemento corrosivo que destrói tudo o que dele se aproxima, elemento deformador, que desfigura tudo o que se refere à estética ou à moral, depositário de forças maléficas, instrumento inconsciente e irrecuperável de forças cegas”.
Assim caminham a humanidade, a tese elitista e seus bravos defensores. E como vimos, não é de hoje.
O “imprensalão”

Ao longo desta campanha eleitoral, quando o “imprensalão” (crédito ao blog Bué de bocas, de Nelson Perez pelo termo) escreveu de tudo – o limite foi um colunista dizer que o presidente foi adestrado a falar, sim adestrado foi o termo usado – tentei o diálogo com os colunistas da Folha Eliane Cantanhede e Clóvis Rossi, retrucando um artigo de cada. Da primeira, ouvi que qualquer um “minimamente alfabetizado” entenderia seu texto de forma correta. Do segundo, que minha observação “é uma das mais estapafúrdias que já ouvi nos últimos 40 anos” e que eu tinha “dificuldade em lidar com fatos”. O colunista em questão dizia a seus esclarecidos leitores: “sejamos realistas, estamos há 20 dias da eleição e a candidatura Alkmin não decolou”. Eu, hein?
Mais Fanon 

Em 1961, Fanon lançava seu livro “Os Condenados da Terra”, em que discutia as condições, as circunstâncias e as dores do parto da descolonização africana. Vale a pena lembrar lembrar um trecho, pensando nos valorosos representantes da grande imprensa: “Para assimilar a cultura do opressor e aventurar-se nela, o colonizado teve de fornecer garantias. Entre outras coisas, teve de fazer suas as formas de pensamento da burguesia colonial. Isso se verifica na incapacidade do intelectual colonizado para dialogar. Porque não sabe fazer-se inessencial em face do objeto ou idéia”.

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