A comunicação da política (2006)

As eleições de 2006 no Brasil mostraram que há algo de novo no comportamento dos eleitores. Ainda é possível falar em grotões? O voto é decidido de que maneira? Existe uma linguagem uniforme para atingir igualmente os desiguais?
O país mudou, os barões da mídia naufragaram na sua tentativa de influenciar os eleitores, e a comunicação política não pode se esquivar de avaliar a nova situação. Apenas um exemplo para discussão: a velha prática de exibir nos programas eleitorais manchetes de jornais para escorar argumentos ainda tem efeito?
Para investigar o cenário e caminhar em direção a uma sistematização do conhecimento envolvido na prática da comunicação política é preciso delimitar o campo, listar os saberes envolvidos e, antes de tudo, fazer um perfil dos atores e suas inter-relações.
Informação
A formação da opinião política passa por transformações, mas o jornalismo realizado pelos grandes grupos ainda é hegemônico no processo. A democratização passará pela perda gradativa de importância das grandes empresas em favor de novas práticas. É sempre bom lembrar que não foi a indústria de válvulas que inventou o transistor.
Os jornalistas dos principais meios de comunicação são bichos esquisitos. Sempre o assunto que estão tratando é o mais importante da atualidade. Nunca admitem críticas, atrás do biombo da liberdade de imprensa. Raramente fazem mea culpa. Defendem interesses e opiniões alheias sem se darem conta que não são as suas.
E jornalistas são os primeiros a acusarem os profissionais de comunicação política de manipuladores, cínicos, pistoleiros de aluguel. A recente entrevista de João Santana, responsável pela comunicação da campanha presidencial do PT, à Folha de São Paulo é mais um exemplo. Virgens vetustas chocadas com o lobo mau.
Por outro lado, as derrotas em eleições são sempre culpa da comunicação equivocada. ACM, na Folha, debita a Luiz Gonzáles a derrota tucana, como se o governo Alckmin em São Paulo tivesse sido uma maravilha e o candidato tivesse alguma proposta concreta para o país. Quase simultaneamente, o candidato de ACM ao governo da Bahia, Paulo Souto, declara em A Tarde que foi derrotado por Jaques Wagner devido a um erro no enfrentamento das idéias, se esquecendo, por exemplo, que mesmo depois de 16 anos do grupo no poder, o trabalho infantil atinge mais de 330 mil crianças no estado.
“O governo é bom, a comunicação que é ineficiente”. Essa ladainha interessa aos políticos ao tira-los da mira. E também aos publicitários, aos institutos de pesquisa e aos meios de comunicação ao incentivar mais gastos em comunicação. E a maioria dos gastos é em publicidade, que tem um retorno rápido para a imagem dos governos, porém fugaz para a consolidação de um projeto político .
Reforma política
Um dos consensos sobre a reforma política parece ser o financiamento público dos partidos. Se isso se confirmar, significa que estaremos lidando com dinheiro público, o seu, o meu, o nosso. Os profissionais de comunicação política temos que refletir sobre o tema.
Diminuirão as incertezas sobre o cumprimento dos contratos que hoje dependem da capacidade de arrecadação dos candidatos. Aumentarão as responsabilidades e as cobranças pela racionalização dos custos. Se tornará mais equilibrada a disputa eleitoral.
Profissionais de comunicação política
Os profissionais da área da comunicação política viemos do jornalismo, da publicidade e do audiovisual. Nossos saberes transitam entre a música, a escrita, a sociologia, o cinema, a televisão, a publicidade, o jornalismo, o teatro... Como é impossível um só tipo de profissional dar conta de tudo, a necessidade do trabalho em equipe. Equipe de profissionais capazes de realizar a travessia da mensagem pelos saberes, ler e traduzir constantemente.
O trabalho de análise de um contexto e de elaboração e colocação em prática de um plano de comunicação, por reunir diversos saberes e diferentes profissionais precisa de muitas informações e experiência para assimilar criticamente a sociedade concreta em que está profundamente fincada a política.
Tomemos o mesmo remédio que receitamos aos candidatos: falemos dos nossos pontos fracos antes que nossos detratores; mostremos conhecimento da realidade sem autocondescendência; tenhamos posições e propostas claras e objetivas.
Eu acredito que o termo “marketing político” é reducionista e colonizado; que a figura do “mago marqueteiro” ajudou na despolitização da sociedade brasileira e no nivelamento por baixo dos discursos políticos; e, principalmente, que a comunicação política é tão importante quanto a democracia e seus partidos.

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